
“O que você coloca na IA vai definir o que você vai tirar dela.”
“Não dá para o output ser bom se o input é ruim.”
um prompt bem construído = melhor resultado.
Vivemos uma era em que usar IA generativa virou ferramenta quase básica no dia a dia de muitos profissionais — na criação de conteúdo, no marketing, na pesquisa, no atendimento, na estratégia. Mas muita gente ainda pensa que “basta digitar algo que a IA vai responder direito”.
Não é assim que funciona. A diferença entre um resultado mediano e um resultado excelente está no prompt — na forma como você articula contexto, instruções, restrições, objetivos.
Nesta primeira parte da série, vamos:
entender o que é “prompt engineering”
ver por que frameworks são fundamentais
aprender o método C.E.R.T.O (Contexto, Exigências, Referências, Tarefas e Objetivos)
comparar com outros frameworks conhecidos e mostrar exemplos práticos
A ideia é que, ao final deste post, quem ler já comece a escrever prompts mais assertivos e ter clareza de como estruturar melhor o input para extrair outputs melhores da IA.
O que é “prompt engineering” — e por que frameworks são vitais
Antes de mergulharmos nos métodos, precisamos definir a base.
Prompt engineering (engenharia de prompts) é a arte e a ciência de construir instruções (prompts) para modelos de IA de modo que o output seja relevante, útil, alinhado com sua intenção.
Pensar em prompts não como “coisa simples” mas como um design de comunicação: você está “conversando” com uma inteligência que precisa de pistas claras para acertar.
Pequenas mudanças no prompt (inserir contexto, definir formato, acrescentar restrições) podem gerar diferenças dramáticas no resultado.
E aí entram os frameworks: eles são modelos estruturados que te guiam a montar o prompt de forma consistente, confiável, escalável. Sem depender só do “achismo”.
Existem vários frameworks populares que ajudam nisso — vamos ver alguns antes de mergulhar no C.E.R.T.O.
Exemplos de frameworks de prompt conhecidos
Aqui vão 3 frameworks bastante usados — para você ver as formas de pensar diferentes.
1. P.R.O.M.P.T
Um acrônimo comum em guias de prompt. Por exemplo:
Purpose (propósito) — o que se quer alcançar
Role / Role (papel) — que persona ou especialidade a IA deve assumir
Output (formato de saída) — como você quer receber o resultado (texto, lista, JSON etc)
Method / Modelo — instruções ou processo desejado
Parameters / Parâmetros — restrições, limites, contexto adicional
Tone / Tom — estilo, voz, nível de formalidade
Esse tipo guia ajuda a “pensar cada parte” do prompt antes de escrever.
Vamos para um exemplo prático, imagine que quero pedir à IA ajuda para criar um roteiro de palestra sobre o impacto da Inteligência Artificial no varejo.
Passo a passo da construção

Prompt completo:
“Crie um roteiro envolvente para uma palestra sobre o impacto da Inteligência Artificial no varejo moderno. Assuma o papel de um palestrante especializado em transformação digital e inovação no varejo. Estruture o roteiro em introdução, três tópicos principais e uma mensagem final inspiradora. Utilize storytelling e exemplos reais do varejo brasileiro para conectar com o público. O conteúdo deve caber em uma palestra de 20 minutos e usar linguagem simples, sem jargões. Use um tom inspirador e próximo, como se estivesse conversando com o público em um evento de negócios.”
Resultado esperado
Com esse tipo de estrutura, a IA entende o que fazer, como fazer, para quem fazer e em qual formato entregar. O resultado tende a ser um roteiro coerente, envolvente e pronto para ser usado — bem diferente do que sairia se o prompt fosse apenas “crie um roteiro de palestra sobre IA no varejo”.
2. 5W1H
Esse framework clássico — do jornalismo, gestão, comunicação — também é útil para prompts:
Who (Quem)
What (O quê)
When (Quando)
Where (Onde)
Why (Por quê)
How (Como)
Ao fazer essas perguntas você garante cobrir todos os elementos importantes do seu prompt — quem é o agente, o que ele deve fazer, em que contexto, razões etc.
Exemplo rápido:
“Quem: um analista de marketing. O que: gerar ideias de pauta para redes sociais. Quando: para 2025. Onde: Brasil. Por quê: para aumentar engajamento. Como: em formato de lista com 10 itens.”
5W1H é simples, direto, e ajuda bastante quando você está montando prompts de análise, planejamento ou ideação.
3. Chain-of-Thought (CoT)
Não exatamente um “framework de prompt completo”, mas uma técnica poderosa para raciocínios complexos:
A ideia é instruir a IA a “pensar passo a passo”, explicando sua lógica antes de dar a resposta final.
Isso ajuda a evitar “saltos lógicos”, reduzir erros em tarefas que exigem múltiplas etapas.
Em vez de “me diga o resultado”, você diz “mostre seu raciocínio e depois responda”.
Essa técnica se combina bem com outros frameworks quando você precisa de explicações mais robustas.
Como aplicar o CoT na prática
Vamos supor que quero usar a IA para analisar um desafio comum no varejo:
“Por que algumas empresas que investem em IA não conseguem ver resultados reais nas vendas?”
Se eu fizer essa pergunta de forma simples, o resultado será algo genérico. Mas se eu aplicar o CoT, eu ensino a IA a raciocinar antes de responder. Veja:
Prompt com CoT aplicado
“Explique passo a passo por que algumas empresas que investem em Inteligência Artificial não conseguem ver resultados reais nas vendas. Primeiro, identifique os principais fatores que influenciam o sucesso da adoção de IA. Depois, analise como cada fator se conecta a resultados de negócio. Em seguida, mostre exemplos práticos de erros comuns. E por fim, apresente uma conclusão que resuma as ações corretivas mais eficazes.”
O que acontece aqui
Ao pedir que a IA explique o raciocínio antes da resposta, você:
Ganha mais profundidade e lógica;
Reduz o risco de respostas vagas;
Estimula o modelo a “pensar em voz alta”, o que aumenta a precisão final.
Quando você ensina a IA a pensar antes de falar, ela começa a agir mais como um parceiro estratégico — e menos como um papagaio digital.
Apresentando o método C.E.R.T.O
Agora quero mostrar o método C.E.R.T.O que aprendi junto a Thaís Martan, em meio aos meus estudos, e hoje aplico muito para criação de Assistentes e Agentes.
Resumidamente,
C.E.R.T.O = Conteúdo / Contexto, Exigências, Referências, Tarefas, Observações
Vamos detalhar cada um:
C — Contexto
O Contexto é o ponto de partida de qualquer bom prompt. Aqui você explica quem você é, onde está inserido e qual é o cenário em volta da tarefa.
Pense que a IA precisa “entrar no ambiente certo” antes de responder. Quando você dá contexto, você evita respostas genéricas.
Dicas de como aplicar:
Quem é você ou qual o papel da IA?
Em que área ou mercado está atuando?
Existe alguma situação específica acontecendo?
Exemplo:
“Você é um consultor de varejo digital atuando no Brasil em 2025, especializado em pequenas e médias empresas de moda.”
E — Exigências
As Exigências definem o formato e as regras do jogo. São as instruções que deixam claro o que pode e o que não pode ser feito.
Dicas de como aplicar:
Defina formato de saída (lista, artigo, tabela etc.)
Estabeleça limite de palavras, estilo de linguagem, tom de voz
Diga o que evitar
Exemplo:
“Use linguagem simples, limite o texto a 5 tópicos curtos e evite termos técnicos.”
R — Referências
As Referências ajudam a IA a “se inspirar” em modelos, estilos ou padrões já existentes. Elas funcionam como bússola criativa — mostrando para onde o resultado deve ir.
Dicas de como aplicar:
Cite fontes, estilos ou pessoas de referência
Indique exemplos ou benchmarks
Mencione sites, marcas ou autores cujo estilo você quer seguir
Exemplo:
“Siga o estilo de escrita do blog AleGuimas e use a mesma clareza e tom de voz das publicações do LinkedIn do Guimas.”
T — Tarefas
Aqui está o coração do prompt: as Tarefas. É onde você descreve exatamente o que quer que a IA faça. Nada de generalidades — quanto mais detalhado o pedido, mais preciso o output.
Dicas de como aplicar:
Use verbos de ação: gerar, comparar, analisar, escrever, reformular
Quebre grandes tarefas em subtarefas, se necessário
Seja direto e específico
Exemplo:
“Gere 5 ideias de conteúdo para o blog sobre o impacto da IA no varejo, com título e descrição curta para cada ideia.”
O — Observações
As Observações são o toque final — aquele espaço para incluir nuances, alertas e instruções adicionais que podem influenciar o resultado. É onde você coloca “o que a IA precisa lembrar” para acertar no tom, no contexto ou no propósito.
Dicas de como aplicar:
Adicione lembretes sobre público-alvo, intenção ou linguagem
Inclua notas sobre o uso do resultado (ex: será publicado, usado em palestra, etc.)
Alerte sobre erros a evitar ou abordagens indesejadas
Exemplo:
“O conteúdo será usado em uma palestra sobre inovação no varejo. Mantenha tom inspirador e evite jargões técnicos.”
Prompt completo usando o método C.E.R.T.O
[Contexto]
Você é um consultor de varejo digital atuando no Brasil em 2025, especializado em pequenas e médias empresas de moda. [Exigências]
Use linguagem simples, limite o texto a 5 tópicos curtos e evite termos técnicos. [Referências]
Siga o estilo de escrita do blog AleGuimas e use a mesma clareza e tom de voz das publicações do LinkedIn do Guimas. [Tarefas]
Gere 5 ideias de conteúdo para o blog sobre o impacto da IA no varejo, com título e descrição curta para cada ideia. [Observações]
O conteúdo será usado em uma palestra sobre inovação no varejo. Mantenha tom inspirador e evite jargões técnicos.
Com essa estrutura, a IA entende quem você é, o que você quer, como quer, com base em quê e quais detalhes precisa respeitar. O C.E.R.T.O transforma o prompt em um briefing completo, eliminando ambiguidades e elevando a qualidade do resultado.
Quem me acompanha em Palestras e Workshops sabe que quando utilizo este método dentro dos Assistentes e Agentes o prompt fica gigante..rs
Comparando C.E.R.T.O com outros frameworks + onde encaixar
O C.E.R.T.O não é o "único caminho", mas você pode usar e adaptar conforme a necessidade
C.E.R.T.O vs P.R.O.M.P.T — muito compatíveis: “Contexto / Exigências / Tarefas / Observações” já cobre muitos itens do P.R.O.M.P.T (propósito, parâmetros, formato).
C.E.R.T.O vs 5W1H — 5W1H dá uma “chegada por questionamentos” que pode ajudar a montar o Contexto + Tarefas + Objetivos. Você pode usar 5W1H como etapa de preparação antes de compor C.E.R.T.O.
C.E.R.T.O + CoT — quando a tarefa exige raciocínio, você pode incorporar uma instrução CoT dentro de “Exigências” (ex: "Explique passo a passo antes de responder").
E há outros frameworks emergentes (COSTAR, PACIF etc.) irei explorar em novos post desta série, acompanhe..rs
Que tal vermos alguns exemplos práticos, o famoso "antes e depois".
Você vai perceber como o simples ato de organizar o raciocínio muda completamente o tipo de resposta que a IA entrega.
Exemplo 1 — Geração de ideias de conteúdo para marketing
Prompt genérico (ruim):
“Me dê ideias de conteúdo para usar IA no marketing.”
Resultado provável: Respostas rasas, genéricas e desconectadas do público.
Prompt C.E.R.T.O (melhorado):
[Contexto] Você é um estrategista de marketing digital que atua com pequenas empresas no Brasil, ajudando marcas a comunicar inovação de forma simples e prática. [Exigências] Gere 5 ideias de conteúdo para postagens em blog, com título e uma breve descrição (até 30 palavras cada). Use linguagem acessível e criativa. [Referências] Inspire-se no estilo de escrita do blog AleGuimas e em publicações da Rock Content e Neil Patel. [Tarefas] Criar ideias de conteúdo que mostrem como pequenas empresas podem aplicar Inteligência Artificial no marketing para aumentar resultados. [Observações] O conteúdo será usado em uma série de posts educativos no LinkedIn. Mantenha tom inspirador, evite termos técnicos e priorize exemplos práticos do dia a dia.
Resultado esperado: A IA entrega ideias contextualizadas, com títulos criativos e foco real no público das pequenas empresas — ou seja, conteúdo útil e alinhado à intenção original.
Exemplo 2 — Pesquisa de tendências de mercado
Prompt genérico (ruim):
“Quais são as tendências da moda para 2025?”
Resultado provável: Uma lista de modismos genéricos, sem foco geográfico ou relevância prática.
Prompt C.E.R.T.O (melhorado):
[Contexto] Você é um analista de tendências que atua no mercado de moda brasileira e acompanha o comportamento de consumo digital no varejo. [Exigências] Liste 5 tendências emergentes de moda para 2025, cada uma com nome, breve descrição (até 40 palavras) e justificativa de impacto. [Referências] Utilize como base relatórios da WGSN e Vogue Business, e inspire-se no formato de publicações da Fast Company. [Tarefas] Identificar e descrever tendências relevantes para marcas de moda brasileiras que buscam inovar no posicionamento e design de suas coleções. [Observações] O conteúdo será usado em uma palestra sobre inovação no varejo de moda. Evite previsões genéricas e traga insights aplicáveis à realidade nacional.
Resultado esperado: A IA entrega tendências mais realistas, com contexto do mercado brasileiro, justificativas e aplicabilidade — um material que já pode virar slide, artigo ou briefing criativo.
Exemplo 3 — Estruturação de um funil de vendas B2B
Prompt genérico (ruim):
“Como montar um funil de vendas para empresas B2B?”
Resultado provável: Uma resposta superficial, sem lógica de aplicação ou conexão com o público.
Prompt C.E.R.T.O (melhorado):
[Contexto] Você é um consultor de vendas B2B especializado em empresas de tecnologia que atuam no Brasil. [ Exigências] Crie um funil de vendas com 5 etapas. Em cada etapa, explique o objetivo, ações principais e um exemplo prático. [Referências] Utilize conceitos do método SPIN Selling e do framework de Inbound Marketing da HubSpot. [Tarefas] Estruturar um funil de vendas completo e prático que possa ser aplicado por equipes comerciais de software B2B. [Observações] Explique o raciocínio passo a passo antes de apresentar o resultado final (técnica CoT). Evite termos excessivamente técnicos e mantenha foco em ações reais que possam ser implementadas.
Resultado esperado: A IA apresenta um funil completo, com etapas claras, lógica de raciocínio, exemplos aplicáveis e linguagem prática — um conteúdo que poderia facilmente virar um treinamento comercial.
“Quando você escreve com C.E.R.T.O, o output vem certo.
E quando o input é inteligente, a IA deixa de ser ferramenta — e vira parceira.”
Dicas práticas
Faça seu prompt em duas fases
Primeiro, monte um “mini prompt de esboço” com perguntas 5W1H
Depois, monte o prompt final com C.E.R.T.O Isso dá clareza e evita omissões.
Itere e refine Sempre compare saída vs expectativas e ajuste. Às vezes falta contexto ou a IA “foge os parâmetros” — isso é normal.
Documente o que funciona Guarde seus prompts que deram bons resultados. Monte uma “biblioteca de prompts” para reaproveitar e evoluir.
Teste variações Mude um elemento (exigência ou formato) para ver impacto no output. Isso ajuda a entender “o que funciona melhor para cada tipo de tarefa”.
Use exemplos e referências sempre que possível Incluir modelos, benchmarks que a IA pode “espelhar” força melhores resultados.
A mágica não está na IA, mas na forma como você a orienta.
ALEXANDRE GUIMARAES
Especialista em Inteligência Artificial e Transformação Digital
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