
Quando a gente fala de Indústria 4.0, costuma vir à cabeça robô, sensor, automação, IoT. Mas, na prática, o que começa a mudar o jogo dentro da fábrica — e também na gestão da cadeia de valor — são os agentes de IA na indústria.
Eles não são só modelos que analisam dados. São sistemas que observam, decidem e agem: monitoram produção, abrem alertas, priorizam ordens, sugerem manutenção, otimizam logística e até ajudam a coordenar iniciativas de inovação.
Neste terceiro artigo da série “Agente de IA em Ação”, eu quero te mostrar como isso já está acontecendo no Brasil, com números e cases reais.
Por que os agentes de IA na indústria estão ganhando espaço agora
A indústria brasileira vive um paradoxo: precisa ganhar eficiência e competitividade num cenário de custos altos, falta de gente qualificada e cadeias globais instáveis. Ao mesmo tempo, a tecnologia está ficando mais acessível.
E os dados mostram que os agentes de IA já entraram de vez no radar das empresas:
Um estudo global da National Research Group para o Google Cloud mostra que 62% das lideranças brasileiras dizem já usar agentes de inteligência artificial nas operações, percentual acima da média mundial.
O AI Agents Report 2025, do Distrito, aponta que 74% das empresas brasileiras já testaram AI Agents e 67% usam esses agentes ativamente em processos internos — e todas reportam ganhos de eficiência operacional.
Pesquisas recentes da SAP indicam que companhias brasileiras já registram retorno médio de 16% sobre investimentos em IA, com projeção de chegar a 31% de ROI até 2027, colocando o Brasil entre os mercados mais avançados na conversão de IA em valor de negócio.
Ao mesmo tempo, outro levantamento destaca que apenas 7% das empresas no país conseguem mapear bem o ROI de IA, e o próprio estudo cita que agentes de IA são caminho para aplicações mais escaláveis, seguras e integradas a sistemas legados.
Ou seja: a indústria já começou a usar IA, mas ainda tem muito espaço para profissionalizar o uso de agentes de IA na manufatura, na logística e na gestão.
O que é, na prática, um agente de IA na indústria
No contexto industrial, eu gosto de pensar em duas grandes famílias de agentes:
Agentes virtuais
Focados em processos de negócio: PCP, supply chain, manutenção, qualidade, inovação, compliance.
Eles leem dados de sistemas (ERP, sensores, planilhas), analisam contexto e tomam decisões operacionais, como priorizar ordens, recomendar ações, consolidar riscos e gerar planos.
Agentes incorporados (embarcados)
Acoplados a máquinas, robôs industriais, AMRs, linhas de produção.
Observam variáveis de processo, executam comandos em tempo real e se integram com gêmeos digitais, visão computacional e segurança.
Artigos recentes de institutos brasileiros como o SiDi descrevem exatamente isso: agentes que funcionam em um ciclo contínuo de observação, planejamento e ação, elevando a indústria a um patamar quase autônomo, mas com humanos assumindo o papel de orquestradores e responsáveis pelas decisões éticas e criativas.
Na prática, esses agentes de IA viram:
o “coordenador digital de produção”,
o “gestor autônomo de manutenção”,
o “despachante inteligente de logística”,
o “advisor virtual de inovação e portfólio”.
Casos brasileiros: agentes de IA no chão de fábrica e além
Vamos aos exemplos, porque é aqui que a indústria ganha corpo.
1. Tupy, Embraer e Bosch: IA, agentes e qualidade em escala
Um painel da CNI destacou como Tupy, Embraer e Bosch já aplicam IA de forma avançada no Brasil.
Na Tupy, que atua com fundição de blocos e cabeçotes de motor:
a IA clássica é usada em controle de qualidade e predição de falhas, com um sistema que monitora 150 variáveis de processo e 45 mil pontos de coleta em tempo real, alcançando alto grau de acurácia;
há um simulador metalúrgico que indica, com antecedência, se uma composição de liga vai gerar problema de qualidade;
e a reportagem cita explicitamente que agentes de IA já auxiliam gestores no acesso a dados de produção, indicando defeitos na linha com fotos — ou seja, um agente virtual de suporte à operação.
Na Bosch, a IA atua em vários pontos:
controle de qualidade de injetores de diesel: o erro humano em inspeção era de 8,5%; com visão computacional convencional caiu para 4,46%; com IA, o índice de erro chegou a 0,13%;
monitoramento de sulcos de pneus da frota com IA treinada em milhares de imagens, o que permitiu reduzir em cerca de 4% o custo com diesel, além de aumentar a vida útil dos pneus;
na agricultura, o sistema One Smart Spray usa IA para aplicar herbicida apenas onde há erva daninha, gerando economia média de 62% no uso do produto.
Aqui, dá pra enxergar claramente os agentes embarcados e os agentes virtuais trabalhando juntos: IA interpretando imagens, tomando decisão e agindo diretamente no processo produtivo.
2. Petrobras, WEG, BRF, Embraer e Gerdau: IA industrial com resultado
Um levantamento da IKARON reúne cinco casos de IA na indústria brasileira que já geram ganho concreto:
Petrobras – monitora equipamentos críticos em plataformas com IA, antecipando falhas, reduzindo paradas não programadas e aumentando a segurança.
WEG – usa IA para analisar em tempo real o desempenho de linhas de produção, gerando maior eficiência, menor consumo de energia e melhor qualidade nos produtos.
BRF – aplica IA na cadeia de suprimentos, reduzindo perdas em produtos perecíveis e melhorando o nível de serviço logístico.
Embraer – acelera design e simulação de aeronaves com IA, reduzindo ciclos de teste e ajudando a criar modelos mais seguros e eficientes.
Gerdau – usa IA para tornar a produção de aço mais eficiente, com ganhos em qualidade e uso de recursos.
Mesmo que nem todos esses projetos sejam descritos como “agentes” nos textos, na prática a arquitetura é a mesma: sistemas que observam dados industriais, tomam decisões operacionais e geram ações automáticas – exatamente o comportamento de um agente de IA na indústria.
Onde eu colocaria agentes de IA em ação na indústria hoje
Bora pensar em algumas perguntas simples que podem ajudar você a definir onde começar a atuar com agentes de IA:
Onde você mais perde dinheiro hoje? (parada não planejada, retrabalho, desperdício, frete, energia…)
Onde você tem dados, mas pouca ação? (sensores, SCADA, MES, relatórios que ninguém lê…)
Onde o time gasta mais tempo em tarefa repetitiva? (planilha, reporte, consolidação de status, triagem de demandas…)
A partir daí, eu enxergo alguns pontos naturais de entrada para agentes de IA na indústria:
Manutenção preditiva e gestão de ativos
Agente monitorando saúde de equipamentos, prevendo falhas e sugerindo ordens de serviço.
Controle de qualidade e inspeção automática
Agente analisando imagens, parâmetros e históricos, aprovando ou reprovando lotes, chamando revisão humana só quando necessário.
Supply chain e logística interna
Agente orquestrando AMRs, fluxo de materiais, priorização de pedidos e rotas internas.
Gestão de energia e sustentabilidade
Agente monitorando consumo, identificando desperdícios e sugerindo ajustes operacionais.
Inovação, portfólio e melhoria contínua
Agente capturando ideias, estruturando projetos, calculando ROI e ajudando a priorizar iniciativas.
Em 2026, vejo as indústrias mais competitivas operando com times híbridos, onde:
humanos focam em decisão estratégica, relações, segurança e criatividade;
agentes de IA na indústria ficam na linha de frente da análise, recomendação e execução de tarefas operacionais — do chão de fábrica à sala de conselho.
## Fontes e referências
- FIEP / Portal da Indústria – Inteligência artificial na indústria brasileira: projetos da Embraer, Tupy e Bosch - Brasil Inovador – IA na indústria brasileira: conheça os projetos da Embraer, Tupy e Bosch - IKARON – IA na Indústria: 5 casos reais de sucesso no Brasil (Petrobras, WEG, BRF, Embraer, Gerdau) - SiDi – Como os agentes de IA devem elevar as indústrias a um nível quase autônomo - Blog do NAC / CNI – Inteligência artificial na indústria - Pollux – Agentes autônomos e robôs industriais: o que muda no chão de fábrica até 2035? - Startups.com.br – AI Agents têm impacto direto na eficiência de empresas, revela pesquisa (AI Agents Report 2025 – Distrito) - Business Moment / Fusões & Aquisições – Distrito lança estudo sobre AI Agents - SAP Brasil – Pesquisas sobre ROI de inteligência artificial nas empresas brasileiras
Alexandre Guimarães
Especialista em Inteligência Artificial e Transformação Digital
Gostou do artigo?
Entre em contato para discutir como podemos ajudar sua empresa com Inteligência Artificial e Transformação Digital.